
Cerca de 2000 brasileiros vão fazer uma travessia de barco, numa viagem de 21 dias, até Angola, "para encontrar os entes queridos" atirados no Oceano Atlântico, numa jornada de autoconhecimento e para “recuperar o que perdeu”.
O percurso contará com três semanas de atividades: sete dias de viagem até Angola, sete dias em solo angolano e sete dias para o retorno ao Brasil. Segundo Fonseca, esse trajeto simbólico busca reconectar os brasileiros às suas origens africanas. “É fundamental refazermos esse caminho pelo Atlântico para entender a história construída pelos nossos ancestrais e honrar os que foram lançados ao oceano ao longo dos séculos”, destacou.
Estima-se que entre os séculos XVI e XIX, cerca de 2,5 milhões de africanos foram levados de Angola ao Brasil e muitos morreram durante a travessia. Ao todo, calcula-se que mais de cinco milhões de africanos tenham sido trazidos ao Brasil durante o período colonial português.
“O que nos une é uma ancestralidade comum, separada por uma trajetória marcada pelo tráfico de pessoas e pela escravidão. Somos uma mesma família, afastada pela dor e pela violência do colonialismo”, afirmou o professor.
Durante a estadia em Angola, os 2.000 brasileiros participarão de atividades voltadas à pesquisa, à valorização da cultura afrodescendente e ao afroturismo — uma forma de turismo que promove o reencontro com as raízes africanas. Esta será a primeira vez, na história, que um grupo tão numeroso refaz esse trajeto pelo oceano com tal propósito.
A programação inclui visitas a marcos históricos e culturais, como o Museu da Escravatura, o Forte São Basílio e o antigo Reino do Congo, promovendo um resgate da memória e da herança africana. Além disso, serão realizados eventos como uma festa literária Brasil-Angola, um festival de arte e cultura, encontros com escritores, visitas a universidades, hospitais, maternidades e centros culturais como o Talapona e o Centro de Belas. Haverá também participação na Feira do Artesanato do Benfica.
Reuniões com empresários brasileiros e angolanos estão previstas, assim como encontros em instituições diplomáticas e culturais, como a Embaixada e o Consulado do Brasil em Angola, o Instituto Guimarães Rosa e a União dos Escritores Angolanos.
Os custos da viagem serão cobertos por instituições públicas e privadas brasileiras. Já o governo angolano será responsável pela logística interna, oferecendo apoio em transporte, segurança, hospedagem e infraestrutura. Segundo Fonseca, o projeto segue uma lógica de reparação histórica, e o apoio de Portugal seria bem-vindo.
A participação no projeto será aberta por meio de editais públicos, garantindo representatividade de 20 estados brasileiros e diferentes setores da sociedade. Haverá vagas destinadas a comunidades quilombolas e a profissionais das áreas de educação, saúde e assistência social, além de empreendedores, artistas e líderes religiosos.
A expedição também marca as comemorações pelos 50 anos da independência de Angola. Durante a jornada, serão oferecidos cursos temáticos voltados para áreas estratégicas como educação, saúde, turismo cultural, assistência social e negócios.
Representantes do samba e das religiões de matriz africana — como o candomblé de Angola e a umbanda — também estarão presentes. A comitiva contará ainda com religiosos cristãos, incluindo padres, freiras e pastores. Haverá, inclusive, a formação de uma frente parlamentar negra, que deverá se reunir com membros da Assembleia Nacional de Angola.